Friday 18 April 2008

Espontaneidades...


É curioso pensar no futuro. Haverá gente que acredite que as nossas acções do presente se devem reger, única e exclusivamente, pelo nosso bem-estar futuro. Isso implica, naturalmente, abdicar de muitos prazeres que podiam ser desfrutados hoje, em vista a qualquer benefício, mais adiante no tempo. Mas implica também direccionarmos a nossa vida numa rota, escapando e evitando a qualquer circunstância que possa oscilar o rumo que escolhemos. Isso retira, de uma maneira implacável, o carácter espontâneo da vida, e, consequentemente, o seu esplendor e interesse. Não é na imprevisibilidade que residem as coisas mais fantásticas da vida? Não é ela que no-las dá, gratuitamente, quando as menos esperamos? E essa mudança de vida, esse brusco turbilhão, que mais tarde ficará registado nas nossas memórias, não é disso que é feito o nosso património intelectual, a nossa sapiência, a nossa história? Os homens pouco produzem; é o acaso que comanda a felicidade. O acaso produz experiência, o plano produz frustração.
Daí que possamos salientar dois aspectos: primeiro, o carácter aleatório da vida, que não é, na minha opinião, comandado por nenhuma força espiritual, mas sim toma o seu lugar no Universo como tudo o resto que nele existe. E segundo, e mais importante, é que a felicidade vem per se, e não é planeada. Se ela é oriunda do acaso, é impossível de planear.
 É tomando esta ideia como base que reforço a minha ideia central: porquê pensar no futuro? Talvez passemos toda a vida a planear, a sacrificar e a acumular para nada. Talvez seguimos uma matriz rígida para nos arrependermos dela no fim. E a que custo? O futuro vai inviabilizar as conquistas que fizemos por ele. O futuro não se come. O futuro não vai ser assim tão fácil, nem tão difícil. Pode até nem haver futuro! Não vale a pena. Ele vem sozinho, não me chamem fatalista nem imediato. Por isso, mais vale deixarmos a vida fluir, evitarmos os compromissos que dirijam a vida, e a expô-la às oscilações do acaso, deixando-a  virar-se para onde entender, e comentar e observar, impavidamente. Mais tarde, escrevemo-las, e rimo-nos delas, as voltas que a vida deu. Comentamos a sorte ou o azar que tivemos. Quem não se deixar envolver no acaso, pouco terá a contar, quando for a hora do balanço.


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